“Tubarão” Atita (ou Eduardo Raposo Rodrigues de Sousa) O professor de Natação e o Tubarão do mar e da ria de Aveiro

A época balnear de 2018 traz consigo um suspiro de saudade. Este ano, já não veremos o audaz e querido Atita pelas praias da região.
Atita, registado com o nome Eduardo Raposo Rodrigues de Sousa, nasceu e cresceu em Aveiro, mais precisamente no bairro da Beira-mar, na Rua do Arco, nº8, em frente à porta da sacristia da capela de São Gonçalinho.
Muito cedo, separou-se do seu verdadeiro nome recebendo, por herança do seu pai, a alcunha de “Atita”.
Segundo o próprio contava, «… na altura do meu pai, o Rossio, onde agora estão aquelas palmeiras, estava cheio de cardos e usava-se o chamado bisgo (espécie de cola) para apanhar os pintassilgos que lá poisavam. Mas, como a malta era muita, sei lá, uns 10 ou 12, e o meu pai era o mais pequeno de todos, então diziam-lhe; “Oh pá, bai lá daquele lado atitar aos pintassilgos.” ».
E assim nasceu a alcunha de Atita – atitar significa soltar atitos (pios de certas aves). Esta alcunha permaneceu na família, mas foi Eduardo Raposo quem a herdou, “por ser o mais maroto da família” e aquele que mais se destacou na comunidade aveirense.
Desde muito cedo dedicou-se à Natação. Alías, em Aveiro, a sua alcunha é indissociável desta prática. O “Tubarão da ria e do mar” poderá ter vivido mais tempo dentro de água do que fora dela. Fosse na ria, no mar ou nas piscinas, ensinou sequelas de gerações aveirenses a nadar. Como atleta, representou sempre o Sport Club Beira-Mar e foi, entre outros títulos, campeão dos 100m, 400m e 1500m em provas regionais. Fez da ria a sua piscina particular e das pontes de Carcavelos, Dobadoura e São João as suas pranchas de saltos.

Entre distintos ofícios – que passaram pela tipografia Lusitânia como encadernador, a casa Varela como comerciante de artigos de pesca, a fábrica do Canal e a fábrica Campos, envolvido na produção cerâmica, e uma escapadela para os Estados Unidos da América (de 1968 a 1981) onde foi padeiro e operário fabril – dedicou-se sempre à prática e ao ensino da Natação. Mas foi a partir do seu regresso a Aveiro, em 1981, que se empenhou, exclusivamente, neste ensino. Nas várias piscinas do município, na antiga lota (praia das Pirâmides), no Poço de Santiago no Canal de São Roque e nas praias da “Biarritz” e de “San Sebastian” na Costa Nova. Conta-se que, por ano, ensinava cerca de 250 pessoas a nadar. Ao fim de mais de 40 anos a fazê-lo, este número excede os 10 000 aveirenses!
«Aprender a nadar com o Atita tinha em Aveiro quase um valor de baptismo de aveirense» Luís Souto

Atita foi um dos primeiros a dar aulas de natação a crianças deficientes e a pessoas com idades mais avançadas. Também contribuiu para a formação de bombeiros locais, candidatos a mergulhadores, que absorveram os seus valiosos conselhos.
Foi Nadador Salvador nas piscinas e praias aveirenses. Salvou mais de 30 vidas, o que lhe valeu uma medalha de prata do Instituto de Socorros a Náufragos.
«O que eu gosto de ver são aqueles que salvei terem as suas famílias, isso é que me conforta o coração. (…) Costuma-se dizer que uma pessoa que salva uma vida salva o mundo, imagina quantos mundos é que eu já salvei…»
Descrito pela sua personalidade extrovertida, alegria contagiante e altruísmo, foi dinamizador de diversas actividades recreativas e desportivas. Entre as quais, criou o famoso “Banho dos Magníficos”, o famoso primeiro mergulho do ano, na praia da Barra, que arrasta multidões às águas frias do Atlântico a cada dia 1 de Janeiro.

Deu origem à “Corrida da Amizade”, apoiada pela Banda Amizade e dirigiu a Associação “Amigos do Parque”em defesa do espaço verde mais antigo da cidade de Aveiro, o parque Infante D. Pedro.
Atita foi também protagonista numa parte do filme “As mil e uma noites” de Miguel Gomes, precisamente na parte “o banho dos magníficos”, que ficou em 4º lugar em Cannes!
Uma das suas últimas grandes emoções foi receber a Grã-Cruz da Ordem de Mérito Civil das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa, a quem ainda desafiou para o próximo mergulho dos “Magníficos”.

Três dias depois, a 10 de Dezembro de 2017, com 85 anos, faleceu o incrível Atita. Mas a cidade recorda-o e celebra-o com o mesmo carinho que sempre mereceu, embora agora com saudade.
O “Banho dos Magníficos” continuará a ser um seu legado aos aveirenses e a quem mais se quiser juntar, mas agora salpicado com um cunho de homenagem ao grande Atita.
Poderá apreciar o tributo municipal a Atita, encomendado na forma de graffiti ao artista Fábio Carneiro , que traduziu numa pintura hiper-realista a sua grandiosidade. Este graffiti está agora colocado sob a “Ponte de Pau”, no centro de Aveiro.
Desde muito cedo Atita dedicou-se à Natação. Alías, em Aveiro, a sua alcunha é indissociável desta prática. O “Tubarão da ria e do mar” poderá ter vivido mais tempo dentro de água do que fora dela. Fosse na ria, no mar ou nas piscinas, ensinou sequelas de gerações aveirenses a nadar. Saiba tudo sobre este ilustre aveirense!